29 de set. de 2010

Começam-se os jogos. Bandeiras espalhadas pelos carros, todos com pulseiras, esmaltes, sandálias ou qualquer coisa que possa conter as cores verde e amarelo predominantes em nossa insígnia. Fogos de artifício e agora as vuvuzelas. Pessoas gritando, roendo as unhas, pulando dos sofás e se abraçando ao ouvir o Galvão Bueno em seu típico "GOL" de imitação a Pavarotti.

O fato mais preocupante em meio a toda essa hipocrisia é o patriotismo exacerbado por conveniência que passa a ser moda. Se uma pessoa não quer assistir ao jogo, é chamada de anti-nacionalista por aqueles que ao mesmo tempo que vestem a camiseta grafando o nome "Robinho", calçam o tênis Nike Shox e viajam todos os anos para a Disneylândia.

"Não! Agora a tendência é viajar para a África do Sul!". E mais uma vez a mídia apresenta a alegria do povo sul-africano em nos recepcionar. Esquecem de mostrar, no entanto, a fome que ameaça 12,8 milhões de pessoas nesse país. A AIDS, que tem nessa região sua maior incidência. E o pior, a doença crônica que aparentemente desapareceu com a vinda do "salvador Mandela", mas que ainda definha os sul africanos: o preconceito.

Com um mês de antecedência a mídia começa a especulação. À vida de cada jogador é atribuído um caráter heróico. Alguns passaram pela fome, outros pela perda de algum familiar e depois de uma "longa jornada de sacrifícios" chegaram ao caminho da fama. Têm suas pernas, sua agilidade e esperteza vendidas por milhões de dólares a times internacionais. Vivem por anos na Europa e só retornam ao seu "tão querido" Brasil na véspera da Copa para uma coletiva de imprensa. Vestem os uniformes e prometem "lutar em nome do nosso país".

É em meio a esse jogo animalesco que milhões de brasileiros são atraídos para a frente da TV nova, parcelada em 24 vezes "sem juros" nas Casas Bahia. Gastam seu salário mínimo comprando uma camiseta oficial de 180 reais e os foguetes para soltar quando o Brasil fizer um GOL. Esse é o prometido "circo" da política populista oriunda da Roma antiga.



Feito na época da Copa e só encontrado agora.

16 de set. de 2010

ESQUADROS

Adriana Calcanhotto

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...


Porque nem sempre somos os melhores para discorrer sobre o que sentimos.