28 de dez. de 2008

''BAILA TU CUERPO ALEGRIA MACARENA"

Falta-me paciência, postura, senso de humor ou não sei ao certo o substantivo que declara isso; uma estranheza, para o senso comum, que me faz tão bem, mas incomoda a todos. Não adianta dizer aquele discursinho de garotinha revoltada: "eu faço o que eu quero, o que me convém", porque por mais que insistamos em ir contra a correnteza, sempre- eu digo SEMPRE- alguém/algo irá nos guiar, ajudar, mandar ou influenciar conforme o ponto de vista que também pode ser alterado, como quiser.
De modo geral, eu odeio dançar, não é uma atividade que me proporciona prazer, tira minhas energias negativas assim como para tantas pessoas. Seria muito grata se houvesse alguém ao meu redor que sentisse o mesmo ou que passasse por uma situação semelhante, mas já que ninguém se torna um voluntário, que pelo menos sejam companheiros, ou ainda desconhecidos que não ficam fixando a atitude que já vêem [que vá fazer um passeio ao interior da Terra bem onde há magma vermelhinho, ou o inferno, se preferir, essa nova convenção ortográfica porque eu vou continuar usando o meu acento, trema e afins] que é inconveniente.

No princípio da festa...
-Vamos dançar?
-Não obrigada, não estou com vontade.

Quando começa a próxima música...
-Noossa, é um desrespeito você não dançar essa música!
-Pois é, né?! Podiam me fazer pagar uma multa, que tal?!

Quando a garotinha empolgadinha já está descendo até o chão e fazendo aquele biquinho que revela tamanha a sua vulgaridade...
-Eu fico me sentindo mal vendo só você aí sentada olhando a gente dançar.
- Mas eu estou me sentindo melhor aqui, obrigada.

No momento que já está todo mundo na pista e que alguns até sobem nas cadeiras[ôh vontadezinha de se esconder, ein?]...
- Veeem, eu te ensino a dançar, eu também não sabia.
-Não, obrigada. Prefiro não saber.

No forró...
*Ato com a mão em que você abre e fecha os seus dedos com a intenção de dizer: "Vem cá"*
*Balançando a cabeça negativamente com aquele sorrisinho simpático*

Na maldita hora que o inconveniente da turma observa a sua presença...
*Todos gritam em coro: "Dança, dança, dança" ou alguma pessoa supimpinha(¬¬) te pega pelo braço e começa a te puxar para o centro da roda*

VALHA-ME DEUS! Será que não percebem que isso é algo que incomoda? É o álcool excessivo nas veias ou a falta de dendritos e axônios? Não posso simplesmente não gostar de dançar e ser natural isso? Tenho que ser julgada como "a leiga na dança" ou "a emburrada", sempre.

E quando falo que é insistência, ainda tenho a obrigação de ouvir:
-Nós só estávamos tentando ser gentis...

22 de dez. de 2008

O MEDO, (d)A SOLIDÃO

Olhava fixamente para o mais alto ponto da árvore. Distraída, pensativa, esperançosa, perturbada. É impossível descrever alguém naquele estado. Não era angústia, nem impaciência. Medo, cruel e frio. Medo.Aquele que as crianças sentem do palhaço com risada escandalosa; do escuro e das coisas que podem haver nele; da onça, do leão ou qualquer outro animal que é retratado em filmes infantis como um mau-caráter. De decepcionar alguém caindo da bicicleta sem rodinhas. Do bêbado que mora na rua ou até mesmo do tradicional "homem do saco". Das lendárias bruxas com nomes dissilábicos, tais como: "Cuca", "Queca" ou das mais perversas que oferecem maçãs ou condenam alguém a dormir a vida eterna. Do "lobo-mau", do "bicho-papão", do "monstro-do-armário" ou do pai que vai chegar em casa depois de um dia cansativo de trabalho e ver que o filho ainda não tomou banho.O mesmo que as mulheres sentem da aranha, da barata ou de qualquer outro artrópode. Do caramujo, da lesma ou ainda de outro molusco. Do mocinho morrer no fim da novela. De cantores de ópera, corvos, cemitério. Tempestades assustadoras. Terror pelo ladrão, seqüestrador, tarado ou qualquer outro da mesma espécie. Da bolsa mais bela acabar na loja antes que ela compre.O que os homens dizem não ter, mas o sentem. De perder o emprego, de fraquejar em uma hora em que necessitam dele, dos amigos saberem de seus mais ínfimos segredos.De seus filhos caírem de uma montanha-russa ou da esposa ser maltratada por uma amiga de trabalho.Era o mesmo que sentia naquele momento transitório, porém memorável. Alguém em um hospital. Receio de perder um ente amado. O medo da máquina de batimentos cardíacos começar um barulho uníssono. Do médico falhar na cirurgia. De Deus o chamar o para um plano superior. De virar adubo para o solo ou um pote para sempre guardado. De um vento soprar mais forte e deixar escapar pelos vãos dos dedos vestígios de risos compartilhados, planos que seriam concretizados. Da dor falar mais alto. Da vida se perder por entre um abismo, e ser levada como uma folha seca, inerte, que cai sobre o chão, assim como aquelas que apreciava. O medo amargo e doce da solidão.