8 de fev. de 2011

Não sei ao certo como você surgiu em minha mente. Amigas brincavam sobre a nossa estatura similar, eu admirava sua inteligência sobrecomum e subitamente tive a sensação de que você era a pessoa certa pra mim. Sem hipocrisias machistas ou um feminismo exacerbado te dei o convite pra entrar na minha vida e você, em agradecimento, ofereceu-me um envelope com todo amor que você podia me ofertar. Depositou junto a esse, um carinho e atenção ainda maiores. Selou com uma dose de realidade e me encaminhou essa carta, que procuro abrir aos poucos para que todo conteúdo não seja despejado de uma vez e eu me "contente", posteriormente, com o vazio.
Eu me acostumei com a sua presença. Me habituei ao seu jeito e me deixei surpreender pelo tão querido abraço de todo dia e os "beijos múltiplos, infindáveis, fatoriais" e não rotineiros.
Hoje, te agradeço por não só ser a minha companhia diária, o meu motivo de perdurar, como também a única certeza que procuro ter do meu futuro.
Só queria dizer em palavras o que não seria capaz de expressar em carinhos. Embora pudesse resumir esse texto em uma só frase, compacta, clichê e que nem por isso deixa de ser significativa: Você é o amor da minha vida, obrigada por existir.
Quando saí de casa meu pai me deu uma orientação: "Filha, só quero que você saiba uma coisa: Depois que você muda da casa dos seus pais, você nunca conseguirá retornar".
Os primeiros anos foram sofridos. Senti na pele o que é solidão. E o pior de tudo, aquela solidão acompanhada. Sensação de que você está perto de muitas pessoas mas se vê distante. Como se todos contracenassem no palco de sua vida e você se transformasse em platéia. A visita de meus pais era sempre acompanhada de um alívio e uma ansiedade pelo medo de retornar ao sofrimento.
Com o tempo você se acostuma, você cria novos vínculos e acaba remediando aqueles quebrados. Você começa a achar que o quarto onde você vive já é seu. Mas ainda assim, quanto retorna ao berço paterno você se sente em casa. Até o dia em que você volta pra casa e não a vê como um lar. Desesperada pela perda de identidade você retorna para a nova cidade e ainda assim não consegue se sentir "em casa". E essa é uma das piores sensações que já senti: Ser uma sem-lar mas com-teto. Uma estranha na minha vida.
O crescimento acompanhado de novas conquistas, exigências e responsabilidades faz com que seus pais te vejam como uma adulta. Deixam de perguntar pra onde você vai sair, deixam de te ligar e ainda quando atendem ao telefone te tratam como um colega de trabalho, ou resolvem problemas, mas nunca mais perguntam aquela típica indagação materna: "E aí, como foi na escola hoje?". Da sua febre você já cuida, acorda à noite com dor e tem que sair da cama pra buscar o remédio. É você que resolve seus problemas. Colo de mãe? O que é isso?
Acho que esse era o sentimento que eu precisava expurgar no dia de hoje. A sensação de ser uma visita no meu suposto lar. Como é ser uma orfã negligenciada por pais vivos que te bancam mas não te criam.